Segunda-feira, 27 de Abril de 2009
Por Fernando C. Titosse
Mutlotcho, como outros tantos meus amigos de infância, perdeu lápis muito cedo. Como não perder se o meu ambiente em que crescemos pouco ajudava: Em casa éramos heróis do dia se voltarmos com massengane ou xidlivane; para não variar, na escola usava-se demasiadamente a linguagem não verbal doi-doi, por isso, era mesmo valioso mesmo ir à caça ou pesca.
Essa situação não era por acaso, é porque os nossos encarregados tinham pouca informação sobre a importância da escola e os Professores eram cópia fiel de uma Educação Colonial infeliz e, acima de tudo bárbara para com o negro.
Mas como não há regra sem ascensão eu tive a sorte de “scholar um pouco nhana”, talvez porque como era relativamente bom a Matemática e a leitura “thossavam-me” pouco no xicolwene. Até porque Prof. Fabião gostava de mim, uma vez que na minha presença as turmas dos Professores Angelina e Pinto não aguentavam no duelo de futebol.
Para a minha felicidade, apesar de as obrigações profissionais me obrigarem estar longe da zona que me viu a nascer, nunca estive dissociada dela, jamais estarei.
Uma das formas que uso para me ligar da minha terra natal é visitá-la sempre que possível. A última vez que fui visitá-lo, Mutlotcho um dos meus amigos de infância pediu-me para vir comigo na capital do nosso Moçambique. Pedido de modo algum podia rejeitar, porque estar co Mutlotcho foi sempre um grande prazer para mim.
Quando chegamos a Maputo, escalamos a Baixa da Cidade, Mutlotcho ficou espantado pelo lixo, imundice comercial, sossego que gozam os guinzas e preocupação que tem os cidadãos “honestos” por temer serem arrancados dinheiro de chapa, celulares, brincos, entre outros bens que com tanto sacrifício terão adquiridos. A preocupação de Mutlotcho atingiu o auge quando viu a disputa que se faz para se apanhar o carro nas horas de ponta, assim como quando viu casas alagadas por dois dias consecutivas no Bairro Luís Cabrão, aliás, Cabral.
- Mas as pessoas de Maputo, melhor, em Maputo tem problemas meu. – Dizia o meu amigo quando quase ao mesmo tempo, passava um carro a fumigar, exageradamente, na auto-estrada Witbank – Maputo, o que me fez interromper o discurso dele dizendo: - Quando o escape sair fumo, não significa que ele tem problemas, muita das vezes os problemas estão no motor.
Sem demora Mutlotcho reagiu ao meu pronunciamento: - O quê!? Queres dizer o problema não está com os vendedores da Capital mas sim com Conselho Municipal?
- Queres dizeres que o problema não está com os ladrões mas sim com os Polícias?